quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Portugal, rosto da velha Europa


« A Europa »
Lápis sobre papel,1943
José de Almada Negreiros (1873 - 1970 )
«O dos castelos»

A Europa jaz, posta nos cotovelos:
De Oriente a Ocidente jaz, fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando.

O cotovelo esquerdo é recuado;
O direito é em ângulo disposto.
Aquele diz Itália onde é pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,

A mão sustenta, em que se apoia o rosto.
Fita, com olhar sphyngico e fatal,
O Ocidente, futuro do passado.

O rosto com que fita é Portugal.


Fernando Pessoa, Mensagem


-------Registo áudio ------------


Eis aqui, quase cume da cabeça
De Europa toda, o Reino Lusitano,
Onde a terra se acaba e o mar começa
E onde Febo repousa no Oceano.
Este quis o Céu justo que floresça
Nas armas contra o torpe Mauritano,
Deitando-o de si fora; e lá na ardente
África estar quieto não o consente.

Esta é a ditosa pátria minha amada,
À qual se o Céu me dá que eu sem perigo
Torne com esta empresa já acabada,
Acabe-se esta luz aqui comigo.
Esta foi Lusitânia, derivada
De Luso ou Lisa, que de Baco antigo
Filhos foram, parece, ou companheiros,
e nela então os íncolas primeiros.


Luís de Camões, Os Lusíadas (Canto Terceiro, estrofes 20 e 21)

__________________________________________________
Imagens daqui e daqui.
Mais informação sobre o poema de Pessoa aqui e aqui.
Sobre a Europa, preciosidades a colher aqui.