segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

«Ode Marítima» no Martinho da Arcada

No aniversário da morte de Fernando Pessoa.



[...]
E ergue-me uma leve brisa marítima dentro de mim.
As vezes ela cantava a "Nau Catrineta":

                                        Lá vai a Nau Catrineta
                                        Por sobre as águas do mar ...

E outras vezes, numa melodia muito saudosa e tão medieval,
Era a "Bela Infanta"... Relembro, e a pobre velha voz ergue-se dentro de mim
E lembra-me que pouco me lembrei dela depois, e ela amava-me tanto!
Como fui ingrato para ela - e afinal que fiz eu da vida?
Era a "Bela Infanta"... Eu fechava os olhos, e ela cantava:

                                        Estando a Bela Infanta
                                        No seu Jardim assentada...

Eu abria um pouco os olhos e via a janela cheia de luar
E depois fechava os olhos outra vez, e em tudo isto era feliz.

                                        Estando a Bela Infanta
                                        No seu jardim assentada,
                                        Seu pente de ouro na mão,
                                        Seus cabelos penteava

Ó meu passado de infância, boneco que me partiram!
Não poder viajar pra o passado, para aquela casa e aquela afeição,
E ficar lá sempre, sempre criança e sempre contente!

[...]                                   
Álvaro de Campos, in "Poemas" 



Lê o resto do poema aqui.

(Atualização da publicação às 19:50)

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