terça-feira, 30 de outubro de 2012

1 de novembro? Diz-te alguma coisa?

É o Dia de Todos os Santos.
Comemora-se em Portugal, com a ida ao cemitério rezar e colocar flores nas sepulturas dos familiares falecidos, porque no dia seguinte é o "Dia dos Fiéis Defuntos".

Na maioria das aldeias portuguesas, este dia é sinónimo de "bolos dos Santos", "castanhas e água pé“, por isso se chama o “Dia dos Bolinhos”.
 É tradição as crianças saírem à rua e juntarem-se em pequenos grupos para pedir o Pão por Deus de porta em porta, recitando versos. Esta atividade é principalmente realizada nos arredores de Lisboa, relembrando o que aconteceu no dia 1 de Novembro de 1755, aquando do terramoto, em que as pessoas tiveram que pedir "pão-por-deus" nas localidades que não tinham sido atingidas pela catástrofe.
Em algumas povoações da Beira, os padrinhos oferecem aos seus afilhados um bolo, o Santoro.

domingo, 21 de outubro de 2012

O menino de sua mãe




Letra, (adaptação do poema) de Fernando Pessoa
Música de Mafalda Veiga‎
Arranjo de António Ferro
disco "Pássaros do Sul" (1987)

O menino de sua mãe

No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado -
Duas, de lado a lado -,
Jaz morto, e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.

Tão jovem! Que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino de sua mãe.»

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço… deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:
“Que volte cedo, e bem!”
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto e apodrece
O menino da sua mãe

domingo, 14 de outubro de 2012

Vaga, no azul amplo solta



Letra de Fernando Pessoa
Música de Patxi Andión
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Vaga, no azul amplo solta,
Vai uma nuvem errando.
O meu passado não volta.
Não é o que estou chorando.

Lo que lloro es diferente

Está en el centro del alma
Mientras, en cielo silente
La nube se mece en calma

E isto lembra uma tristeza

E a lembrança é que entristece,
Dou à saudade a riqueza
De emoção que a hora tece.

Pero al fin, lo que es llanto

En esta triste amargura,
Vive en el cielo mas alto.
En la nostalgia mas pura.

No se lo que es, ni consiento / Não sei o que é nem consinto

Al alma saberlo bien. / À alma que o saiba bem.
Visto el dolor con que miento / Visto da dor com que minto
Dolor que en mi alma es ser. / Dor que a minha alma tem

domingo, 7 de outubro de 2012

Liberdade



Ai que prazer
não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
como tem tempo, não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto melhor é quando há bruma.
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

E mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças,
Nem consta que tivesse biblioteca...

 Fernando Pessoa